domingo, 9 de outubro de 2011

casas...

Tenho-me apercebido de algumas pessoas que têm grandes dúvidas acerca da compra de casa própria ou não... Eu vejo esta questão um bocadinho como comprar-mos um carro ou usarmos transportes públicos.

Lembro-me de ter 15 anos e a minhas amigas que tinham todas 17 ou 18 andarem desertinhas para tirarem a carta, para terem o seu carro. 
No que me toca, não tinha vontade nenhuma. Fiz 18 anos e a vontade manteve-se nula. Quando arranjei emprego, comprar um carro e passar a conduzir todos os dias, não foi aliciante. Como não há transportes públicos compatíveis, preferi mudar de casa e andar a pé até ao trabalho a tirar a carta.
Só decidi tirar a carta quando tinha 20 anos, porque a casa em que estava a viver comportava várias barreiras à minha paciência (mas essa história fica para outra altura) e portanto achei que estava na hora de voltar às origens.
Como trabalhava, despachei a coisa em 6 meses. Durante esse tempo cortei nas despesas ao máximo, como sempre tive as minhas contas muito certas e tinha algum dinheiro de parte, passei no exame e comprei logo o carro. A pronto. Passei o cheque e deram-me a chave. A minha maior despesa de sempre deu-se por isso aos 21 anos. 
Preferi ter um carro mais modesto, em segunda mão, mas que me satisfizesse, a pedir um empréstimo e ter uma despesa extra, com todos os juros que isso acarreta. Não me arrependi. Mas realço que o motivo que levou a essa compra foi única e exclusivamente o facto de nesta zona andar de transportes públicos ou a pé é impossível para alguém que queira fazer alguma coisa.
Se vou a um sitio como Lisboa, por exemplo, nem penso levar o carro. Acho uma parvoíce quando se tem tantas alternativas. Se morasse numa cidade, provavelmente também não o faria.

Da mesma forma, que não percebo quem compra um carro só por comprar, só para o ter, se andar a pé é tão mais mágico. Não percebo quem compra casa só para dizer que a casa é sua, quando tiver 80 anos e pago 3 vezes mais.
Vejo pelos meus pais. O meu pai tinha terrenos. Os meus pais viviam na casa dos meus avós, que é uma espécie de casa com vários apartamentos, com um pátio interior e anexos a toda a volta. Mas a minha mãe estava farta de viver assim, apesar de as casas não terem acesso umas às outras a não ser pelo pátio. Sentia que não tinha privacidade porque os meus avós sabiam quando entravamos e saiamos e aquelas coisas, de nora e sogros. Por isso, ao fim de 13 anos decidiram ter uma casa.
Adoro a nossa casa, não levem a mal. Mas já aqui moramos há 10 anos. 10 anos em que os meus pais pagaram o empréstimo todos os meses. Mas ainda faltam 25 anos para acabar. Isso quer dizer que vão estar reformados com um empréstimo por pagar. Também quer dizer que agora somos só três e vivemos num monstro de casa de tão grande para nós. Não se adapta às nossas necessidades e sei de antemão que tal como a carta e o carro saíram do meu bolso, não poderei ser daqueles filhos que contam com a ajuda dos pais quando quiserem sair de casa dos pais, porque eles é que vão continuar a precisar de ajuda para pagar a casa deles, como tem acontecido nos últimos quatro anos.
Não valerá de muito nem para mim, nem para o meu irmão, hipoteticamente herdarmos uma casa, quando também nós já tivermos idade para termos a nossa vida mais do que orientada, e não sei se servirá de muito aos nossos hipotéticos filhos.

Uma coisa que me preocupa bastante é também a questão do empréstimo, porque eu tenho um sentimento de posse muito grande sobre o meu carro, não deixo que mais ninguém lhe toque a não ser que seja mesmo necessário, e também não o traiu com mais nenhum. Mas descansa-me o facto de saber que se ele daqui a uns anos não for o ideal para as minhas necessidades é só encontrar outro. Tudo isto me parece mais difícil com a casa.



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